Editorial

Raziel - príncipe dos Querubins (do hebraico - segredo de Deus). O Príncipe Raziel é o anjo dos mistérios. Reside em Chochmak, o império das idéias puras. É o príncipe do conhecimento e guardião da originalidade.

Até o fim

Quando nasci veio um anjo safado/o chato dum querubim

E decretou que eu estava predestinado/a ser errado assim.

Já de saída a minha estrada entortou/Mas vou até o fim

‘Inda garoto deixei de ir à escola/Cassaram meu boletim

Não sou ladrão, eu não sou bom de bola/Nem posso ouvir clarim

Um bom futuro é o que jamais me esperou/Mas vou até o fim

Eu bem que tenho ensaiado um progresso/Virei cantor de festim

Mamãe falou que eu faço um bruto sucesso/Em Quixeramobim

Não sei como o maracatu começou/Mas vou até o fim

Por conta de umas questões paralelas/Quebraram meu bandolim

Não querem mais ouvir as minhas mazelas/E a minha voz chinfrim

Criei barriga, minha mula empacou/Mas vou até o fim

Não tem cigarro, acabou minha renda/Deu praga no meu capim

Minha mulher fugiu com o dono da venda/O que será de mim?

Eu já nem me lembro pronde mesmo que vou/Mas vou até o fim

Como já disse era um anjo safado/O chato dum querubim

Que decretou que eu tava predestinado/A ser todo ruim.

Já de saída a minha estrada entortou/Mas vou até o fim.

Chico Buarque

 

A Revista Querubim é mais uma iniciativa que põe em circulação trabalhos de estudantes e de professores, que pleiteiam aprofundar as investigações nas suas respectivas áreas de estudo e atuação, sobretudo quando formulam hipóteses e teses não tão convencionais sem, entretanto, esquecer do necessário rigor científico e acadêmico. A Revista também está aberta para receber trabalhos de todos os cidadãos, mesmo não graduandos, mesmo não escolarizados na escola formal, mas que "ousam" escrever sobre variados temas nas áreas de humanas, sociais e letras.

Consideramos trabalhos não muito convencionais aqueles que articulam o conhecimento à efetiva contribuição e compromisso político na resolução de problemas e conflitos próprios de uma estrutura social, no nosso caso a capitalista neoliberal. Que nos cheguem trabalhos, em cujo escopo, esteja presente a utopia de uma sociedade alternativa, humanizada e humanizadora, o que acreditamos como possível na constituição de um modelo, no qual se efetive a participação do povo nas decisões políticas.

Entendemos que a Universidade Brasileira e de outros países considerados periféricos, na maioria das vezes, primam pelo excesso de aplicação de técnicas de ensino e pesquisa, priorizando a transmissão de conteúdos sem questionar a sua relevância social, humanista e instituinte, reafirmando o atual modelo de sociedade em que vivemos: concentradora de rendas, excludente, discriminatória, individualista. Sem nenhuma reserva, as referidas universidades atuam em estreita sintonia com o neoliberalismo e a preservação dos valores nucleares do capitalismo, apenas não assumem explicitamente tal postura, e acabam escondendo-se na sombra dos nossos mestres comprometidos com a mudança estrutural da sociedade brasileira. A Universidade, na sociedade capitalista, não tem outra alternativa a não ser implementar uma pedagogia para a mudança da estrutura social e econômica, o que Istvan Meszáros chama de consciência socialista.

Defendemos, portanto, uma Educação Superior que entenda a formação integral do futuro profissional das áreas de letras, humanas e sociais como um espaço que lhe proporcione uma ampla revisão - o que implica em uma ação transformadora - da constituição histórica das categorias hegemônicas de pensamento que regem o modelo neoliberal/capitalista, e partir daí, a articulação de ações possíveis na luta pela mudança do atual modelo capitalista para um modelo humanista próprio do socialismo.

Dentre os aspectos que destacamos como fundamentais, os trabalhos científicos submetidos ao Conselho Editorial não serão avaliados com as categorias - reprovado ou aprovado - , pois a nossa proposta é de interlocução com os autores, ou seja, os pareceristas (Conselho Editorial) darão os seus pareceres sugerindo eventuais alterações ou adequações. Após a realização das referidas adequações pelos autores, o (s) respectivo (s) trabalho(s) será (ão) publicados no número posterior da Revista Querubim. Portanto, a nossa tarefa é educativa/dialógica, no sentido freiriano.

Dessa forma, esperamos estar contribuindo da melhor maneira possível no processo de socialização do conhecimento. Vale dizer que, apesar de nossa assunção política, fazemos a avaliação de trabalhos com orientações diversas, pois se assim não o fizéssemos, estaríamos em contradição no processo de construção da consciência socialista.